Á medida que me aproximo cada vez mais da hora de ser mãe, vou sendo invadida com recordações da minha infância, recordações boas e outras, todas fazem parte do meu crescimento. É engraçado como acontecimentos que normalmente não penso no meu dia-a-dia, vão agora surgindo devagarinho, por vezes dou por mim a rir-me sozinha quando uma dessa imagens, com som e cheiro me iluminam...
Porque será que isso acontecesse? Claro que fazem parte da minha vida, mas porquê nesta fase da minha vida? Será que de uma forma inconsciente penso, que momentos o Miguel reterá como as boas recordações da infância??...talvez...
Tenho melhores recordações dos meus avôs do que das avós, penso que por elas não serem muito dadas a demonstração de afecto, nunca me recordo de uma avó me pegar ao colo, ou dar aquele abraço bem apertado. Elas tratavam-me muito bem, faziam o que eu gostava para comer, lembro-me do arroz doce que ambas faziam muito bem, mas a parte dos afectos não era o seu forte.
Nas férias grandes, na altura haviam ainda os 4 meses de férias no verão... nas férias grandes lá ia eu passar uns 15 dias para casa de uns avós e depois mais 15 para casa de outros, isto antes de ir para a praia com os meu pais, as nossas férias eram sempre iguais.
Os meu avós maternos vivam em Lisboa, era uma seca!!! quando tinha já uns 10/12 anos obrigava-me ainda a dormir a sesta, odiava isso!! tinha que me deitar obrigatoriamente e esperar até me poder levantar, tinha que lanchar ás 17h em ponto, tivesse fome ou não e só podia ir brincar para a rua depois das 17h30, era quando já não havia muito calor.
O meu Avô falava comigo, jogava ás cartas e era muito bem disposto, contrapondo a altivez desta minha avó e que me criticava com alguma frequência. “ai filha esse teu cabelo” “vais para á rua com isso vestido” Arggggg..... cheguei a contar quantos dias faltavam para estas férias acabarem. Esta minha avó ainda é viva, tem 90 anos de idade, acredito que se lesse isto, ficaria triste comigo....
Os meu avós paternos viviam numa aldeia perto Peniche, adorava ir para lá! O meu avô teve uma façanha muito engraçada e criativa, de forma a contar-me uma história que nunca tinha fim, ele não precisava de contar uma nova, ía alimentando sempre a mesma. Passo a explicar “era uma vez um pastor que tinha 150 ovelhas” a missão que este pastor teria já nem lembro, mas sei que ele tinha que chegar a um sitio qualquer, que nunca soube qual era hahaha. Quando a história começava a ser interessante, o pastor deparava-se com uma ponte muito estreitinha, onde só cabia uma ovelha de cada vez. Aí eu perguntava “ e depois?”, o meu avô dizia-me que só podia continuar a história amanhã, porque iam demorar muito tempo a passar, que eu não me esquecesse que eram 150 ovelhas, era como se o pastor falasse com ele todos os dias para lhe contar o episódio seguinte. Eu esperava ansiosamente pelo dia seguinte para saber o resto da história, no dia seguinte, o pastor teria que ficar abrigado numa barraquinha que tinha encontrado no meio do caminho, porque estava a chover muito e ele não poderia continuar a sua jornada, era sempre assim... Para concluir, o meu avô contou-me esta história durante anos... eu nunca soube o fim da história! Hoje recordo-me destes momentos com muito carinho :)
Com a minha avó paterna era agradável também, ela fazia pão em casa e deixava-me fazer pãezinhos pequeninos, que seriam aqueles que eu comia, andava imenso de bicicleta, passeava pelas terras que aquela casa tinha á volta, subia ás árvores, brincava numa nespereira centenária, dava de comer ás galinha, divertia-me imenso, enfim...liberdade total!
Desejo ao meu Miguel muitos bons momentos com os seu avós, que um dia, quando for adulto, tenha muito boas recordações para se lembrar :)
Nesta tarde chuvosa, foi o que me apeteceu pensar... não me vou alongar mais... até breve!!